terça-feira, 3 de maio de 2011

Distinções entre este, esse e aquele

Vale lembrar, antes de tudo, que os pronomes demonstrativos indicam a posição dos seres designados em relação às pessoas do discurso, situando-os no espaço, no tempo ou no próprio discurso. Apresentam-se em formas variáveis (em gênero e número) e invariáveis.

Desse modo, as regras primárias baseiam-se no posicionamento do objeto em relação à pessoa que fala e à que ouve no discurso. Se, por exemplo, uma camisa está perto da pessoa que está falando, usam-se este, esta ou isto. Eis alguns exemplos:

> Esta camisa que visto é muito bonita.
> Este rapaz a meu lado é um velho amigo.
> Este bule é de prata. (Está implícito o advérbio de lugar aqui, o que demonstra que o bule está perto do emissor da mensagem.)
> Aquela garota ainda não sabe o porquê de o Presidente Obama ter vindo a este país.

Se, contudo, o objeto está próximo a quem ouve a mensagem, é legítimo empregar esse, essa ou isso:

> Podes mostrar-me o que é isso em tua mão?
> Recebe meus cumprimentos por mais um ano que esse velho corpo consegue atravessar incólume! (Implícito está o pronome possessivo teu, o que demonstra o emissor estar-se referindo ao corpo do receptor da mensagem.)
> Isso aí deverá ser transportado de maneira zelosa. (O advérbio de lugar aí indica que o objeto a que o emissor se refere está próximo a quem ouve a mensagem.)
Agora, se o objeto estiver distante tanto de quem fala ou escreve como da pessoa a quem se fala ou escreve, dever-se-ão empregar aquele, aquela ou aquilo. O objeto fica distante, portanto, dos interlocutores:

> Veem aquelas nuvens para lá da montanha? (O advérbio de lugar lá deixa claro que as nuvens estão longe do emissor e do receptor da mensagem, ou seja, tanto de quem a fala como de quem a ouve.)
> Que é aquilo do outro lado da rua?
> Aquele sujeito é teimoso. (Há, aqui, uma situação particular: o sujeito mencionado não está localizado no espaço físico propriamente dito como também não está inserido na circunstância referencial existente entre os interlocutores. A palavra denotativa de realce lá toma parte e fica subentendida na referida situação, e o sujeito é tomado como assunto, ou seja, algo sobre o qual se fala.)

Também é sabido que os pronomes demonstrativos situam os seres no tempo. Este e suas variantes (isto, deste, disto, neste etc.) transmitem ideia de tempo presente em relação a quem fala ou escreve:

> Nestas últimas horas tenho aprendido mais do que durante toda a minha vida.
> Quero ir, neste ano, a Brasília. ( = ano atual)
> Esta semana será demasiado enfadonha. ( = semana recente, atual)

Esse (e suas variantes) indica o passado ou o futuro próximos de quem fala ou escreve — nada mais que passado ou futuro recentes, não muito distantes. Exemplos:

> Há algumas semanas estive em Fernando de Noronha; nessa ocasião, pude verificar, mais uma vez, a beleza inconfundível do lugar. ( = passado próximo)
> Depois de amanhã, Bruna chegará; nesses poucos dias, poderemos mostrar-lhe como ficou a reforma da casa. ( = futuro próximo)
> Foram muito agradáveis esses dias que passei na praia. ( = passado próximo)
> É presumível que essas horas em que estaremos juntos sejam bastante proveitosas. ( = futuro próximo)
Aquele (e suas variantes), por sua vez, sinalizam um passado vago ou remoto:

> Naqueles tempos, nosso país era mais otimista.
> Àquela época, podia-se caminhar à noite em segurança.
> Não havia, naquele tempo, os perigos que há hoje.
> Como era fascinante aquela época em que saíamos juntos!

Há, ainda, a função referencial dos demonstrativos, segundo a qual eles podem estabelecer relações entre as partes do discurso, isto é, podem relacionar aquilo que já foi dito/escrito com o que ainda se vai dizer/escrever. À conta disso, é a mais importante função dos demonstrativos, pois contribui para a articulação de textos. Quando o pronome se referir a algo que já foi citado (referência anafórica), usar-se-ão esse, essa ou isso; logo, quando o assunto houver sido mencionado, tais pronomes tomarão parte. Quando, porém, o pronome se referir a algo que ainda será mencionado (referência catafórica), usar-se-ão este, esta ou isto. Vejamos as diferenças:

> Muita felicidade, é isso o que te desejo. (Isso retoma algo (assunto) já mencionado, a saber, muita felicidade.)
> É isto o que te desejo: muita felicidade. (Aqui, isto refere-se à mesma coisa (assunto = muita felicidade), mas que ainda será citada.)
> Fazem parte de nosso dicionário palavras como poluente, entulho, tóxico, efluente. Esses (tais) termos surgiram junto com a sociedade do bem-estar.
> Tenho nadinha programado sobre viagens pelo Brasil. Isso não se programa com antecedência.
Observe-se que os invariáveis (isso, isto, aquilo) podem recuperar toda uma frase, e não apenas um elemento dela.

Outros exemplos pertinentes:

> Meu argumento é este: o crescimento econômico somente faz sentido quando produz bem-estar social.
> O crescimento econômico somente faz sentido quando produz bem-estar social. Essa é a posição que defendo.
> Disse-lhe que iria embora, e isso a deixou triste.

Existem somente dois casos em que este e suas variantes fazem referência ao que já foi citado:

a) Quando a referência for a elemento imediatamente anterior:

> João gostava de Carolina; esta, de Pedro. (Esta retoma Carolina, termo imediatamente anterior.)
> Renato jogava com Diogo quando este era pequeno. (Aqui, usa-se este para também se evitar dupla leitura de sentido. Porque este deve referir-se a termo imediatamente anterior, fica claro que era pequeno apenas Diogo. Sem a presença do pronomezinho, tanto Renato como Diogo podem haver sido pequenos quando jogavam.)
b) Quando a referência for ao segundo (mais próximo) de dois elementos anteriormente citados numa mesma oração ou período. A retomada ao primeiro elemento (mais distante, afastado) será exercida pelos pronomes demonstrativos de terceira pessoa (aquele e variantes):

> Apreciava os bons vinhos portugueses e as iguarias francesas. Estas, pelo paladar requintado; aqueles, pelo buquê característico. (Estas retoma iguarias francesas, ao passo que aqueles recupera os bons vinhos portugueses.)
> Ouvia Caetano e Chico, dois excelentes artistas. Admirava este como autor e aquele como cantor. (Este retoma Chico; aquele, por sua vez, recupera Caetano.)
> Crianças e idosos enfrentam problemas semelhantes na sociedade brasileira: estes são desprezados por um sistema previdenciário ineficiente e corrupto; aquelas são massacradas por uma distribuição de renda que impede os pais de criá-las dignamente. (Estes refere-se ao termo idosos; aquelas, ao termo crianças.)
Por fim, cumpre destacar alguns dados estilísticos sobre os pronomes demonstrativos:

1) Nisso pode ocorrer com sentido de “então”, “nesse momento”, “eis que de repente”, “senão quando” etc.:

> Nisso aparece à porta o meliante, todo sujo, respirando ofegante.

2) Os demonstrativos podem conotar:

a) ironia → Não sou dessas, não.
b) desprezo → Aquilo nem era facão, não servia para uma coisa sequer.
c) surpresa → Essa não! Que é que ela vem fazer aqui?

3) O demonstrativo isso, na linguagem coloquial, pode funcionar como índice de resposta afirmativa, de modo que equivale a “sim”:

— Então ele não joga nem quer que joguemos?
— Isso. Além disso, nem sequer permite que saiamos daqui.

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