quinta-feira, 24 de março de 2011

Pronome de tratamento - assunto atualizado 2011

Pronome de tratamento - assunto atualizado 2011


1) Também chamado pronome de reverência, é a maneira formal para se dirigir com reverência a determinadas pessoas; são aqueles pronomes “usados no trato cortês e cerimonioso”.1 Ex.: “Sua excelência, o presidente do Tribunal de Justiça, honrou-nos com sua visita.”

2) É importante saber alguns cargos e respectivos pronomes de tratamento: arcebispo (Vossa Excelência); bispo (Vossa Excelência); cardeal (Vossa Eminência); comandante geral da Polícia Militar (Vossa Excelência); cônsul (Vossa Senhoria); coronel (Vossa Senhoria); deputado (Vossa Excelência); desembargador (Vossa Excelência); embaixador (Vossa Excelência); general (Vossa Excelência); governador de estado (Vossa Excelência); juiz de direito (Vossa Excelência); marechal (Vossa Excelência); ministro de estado (Vossa Excelência); prefeito (Vossa Excelência); promotor de justiça (Vossa Excelência); reitor de universidade (Vossa Magnificência); secretário de estado (Vossa Excelência); senador (Vossa Excelência); tenente-coronel (Vossa Excelência); vereador (Vossa Excelência).

3) Se se trata alguém por Vossa Excelência, o endereçamento da correspondência é excelentíssimo, ou, em abreviatura, Exmo.; se se trata por Vossa Senhoria, o endereçamento é ilustríssimo, ou, de forma abreviada, Ilmo.

4) No uso dos pronomes de tratamento, quando se fala diretamente à pessoa tratada (“pessoa com quem se fala”), usa-se ”vossa”; quando, porém, se faz referência à pessoa tratada, mas se conversa com outrem (“pessoa de quem se fala”), emprega-se “sua”. Exs.:

a) “Vossa Excelência, senhor Deputado, é muito corajoso” (quando se fala com a autoridade);

b) “Sua Excelência, o Deputado Araújo, de quem lhe falei há pouco, é muito corajoso” (quando se fala da autoridade).

5) Em outras palavras: “se a pessoa, a quem se refere o tratamento, está ausente, isto é, se, em vez de ser o interlocutor (segunda pessoa), for o assunto (terceira pessoa) – a pessoa de quem se fala – então se empregará o (pronome) adjetivo Sua, e não Vossa”.2

6) Quanto à concordância verbal, embora se trate de pronome da segunda pessoa (com quem se fala), o pronome de tratamento precedido de vossa leva o verbo e os demais pronomes para a terceira pessoa (na prática, substitui-se mentalmente por você). Exs.:

a) “Vossa Excelência foi traído por seus próprios assessores” (correto);

b) “Vossa Excelência fostes traído por vossos próprios assessores” (errado).

7) Anota Carlos Góis que esse idiotismo do português – de empregar a terceira pessoa pela segunda, com os pronomes de tratamento seguindo em mesma esteira – é também peculiar ao italiano.3

8) Quanto a sua concordância nominal, o pronome de tratamento harmoniza-se com o sexo da pessoa representada. Exs.:

a) “Vossa Excelência, senhor juiz, é muito corajoso”;

b) “Vossa Excelência, senhora juíza, é muito corajosa”.

9) Nessa esteira, porque o papa é sempre pessoa do masculino, sempre se dirá “Sua Santidade mostrou-se corajoso em seu pronunciamento”, e nunca “Sus Santidade mostrou-se corajosa em seu pronunciamento”.

10) Valendo a ponderação também para a concordância nominal, Carlos Góis observa curiosamente que não se há de falar, no caso, em concordância verbal, mas em discordância do verbo, que é “a não conformidade literal da flexão do verbo ao número, ou à pessoa do seu sujeito”, e isso porque, embora se refira à segunda pessoa (o interlocutor ou a pessoa com quem se fala), o verbo “acomoda-se à flexão da terceira pessoa”.4


11) Podendo-se substituir mentalmente o pronome de tratamento por você, verifica-se que o vossa que a ele se acopla não define a pessoa em que se vai conjugar o verbo nem os pronomes que serão utilizados, e é importante manter a uniformidade de tratamento. Assim, repita-se, o correto é dizer-se “Vossa Excelência cumpriu seus compromissos”.

12) Constitui erro crasso falar: “Vossa Excelência cumpriu vossos compromissos” ou “Vossa Excelência cumpristes vossos compromissos”.

13) Em outra observação, oportuno é lembrar, com Napoleão Mendes de Almeida, que não tem base gramatical a afirmação de que se tenha que repetir enfadonhamente o pronome de tratamento, sem substituí-lo por pronome oblíquo, ou mesmo que, ao menos uma vez em cada parágrafo, tenha que haver menção a ele.5 Isso é invencionice, sem base científica alguma.

14) Pode-se usar, assim, sem temor, o pronome oblíquo no lugar do pronome de tratamento, já empregado anteriormente, evitando-se desnecessárias repetições. Exs.:

a) “Formulamos-lhe este pedido”;

b) “Vemos qualidades ímpares em sua pessoa;

c) “Pedimos-lhe este supremo favor”.

15) Nessa esteira, lembra Geraldo Amaral Arruda que “nos ofícios não é... de rigor que fórmulas protocolares ou de cortesia se repitam fastidiosamente. Nada obsta a que se use o pronome oblíquo (lhe ou o) ou os pronomes possessivos, quando couberem, evitando o uso iterativo das fórmulas. O emprego de pronome oblíquo ou possessivo, mesmo na linguagem protocolar, é correto... e, por si, tal procedimento não implica descortesia.6

16) Por fim, é de se anotar que escritores ilustres nem sempre escapam de algum escorregão no campo da concordância do pronome de tratamento. Narra-se, por exemplo, que, em carta datada de 18 de outubro de 1853, Antônio Feliciano de Castilho principiou pelo tratamento de vossa excelência: “Recebi em tempo próprio a carta com que V. Exa. me honrou”. Ao longo do texto, porém, acabou ele por mudar o tratamento para a segunda pessoa do plural: “De todo o coração vos abraça o vosso respeitador, consócio e amigo obrigadíssimo”.

17) De igual modo, em fala dirigida a Dom Pedro II em 4 de maio de 1889, Rui Barbosa, a par do tratamento protocolar de Vossa Majestade, também cometeu idêntico equívoco, que se alastrou por outros de seus discursos: “Com profundo sentimento de piedade acompanhou esta Câmara o discurso, que o Ministério acaba de proferir pelos augustos lábios de Vossa Majestade; e, escutando-o com a reverência devida à vossa posição...”.7

18) Para ambas as situações, como lembrava Horácio, poeta latino, não há usuário da língua que não cometa equívocos orais ou escritos, e de quando em vez, até ilustres escritores claudicam, dormem e ressonam: “quandoque bonus dormitat Homerus”.

19) Na tentativa de alguma explicação para erros dessa natureza, o que não os justifica nem os transmuda em formas aceitáveis perante a norma culta, observa Sousa e Silva que “outrora havia indecisão no emprego de tais formas, alternando no mesmo escrito Vossa Alteza, por exemplo, e vós; seu e vosso; etc.”.8

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