terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Verbo, substantivo e casos de ambigüidade

Verbo, substantivo e casos de ambigüidade"Papa pede reconciliação de fé e política"

Segundo a agência de notícias Folhapress, o Papa Bento XVI disse, na França, quando discursou ao lado do presidente francês, Nicolas Sarkozy, que a religião e a política devem estar abertas uma para outra. Para o Papa, é necessário se tornar mais ciente do papel insubstituível da religião na formação de consciências e na criação de um consenso ético básico dentro da sociedade.

Há, porém, na França, uma estrita separação entre a Igreja e o Estado, por isso o pedido de reconciliação. O nosso assunto, no entanto, não é religião nem política, e sim gramática portuguesa. O mote deste texto é o título do artigo: "Papa pede reconciliação de fé e política", que contém o substantivo reconciliação, cujo significado é ato de reconciliar(-se), que, por sua vez, significa estabelecer a paz entre duas partes, fazer as pazes, congraçar(-se), harmonizar(-se), conciliar(-se). O uso de (-se) indica que o verbo pode ser pronominal: reconciliar ou reconciliar-se.

Quando li o título, senti certo estranhamento, mas entendi o que o autor quis transmitir: o Papa pediu que voltasse a haver, na França, harmonia entre a Igreja e o Estado. A comunicação foi efetivada, portanto, satisfatoriamente. Por que, então, o estranhamento? Explico: eu, professor de gramática da língua portuguesa (ou fiscal da gramática, como já me chamaram no blog coletivo Tipos), sempre estou atento aos mínimos detalhes gramaticais de tudo o que leio.

Notei que a conjunção poderia causar duplo sentido à oração, pois o Papa poderia ter pedido duas coisas: "reconciliação de fé" e "política". Na frase apresentada, reconheço que foi absurdo pensar isso, mas em outras construções com o mesmo verbo e com o mesmo substantivo, a ambigüidade pode de fato ocorrer. Por isso, deve-se usar com muita atenção tal conjunção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário