quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ao dizer que tomou uma taça de vinho

Ao dizer que tomou uma taça de vinho, a pessoa não está querendo dizer que ingeriu a taça; naturalmente, ingeriu a bebida contida nela. O núcleo do objeto direto do verbo "tomar", entretanto, é a taça, não o vinho. Toma-se o continente (aquilo que contém algo) pelo conteúdo. Esse processo é bastante freqüente na linguagem do dia-a-dia. Ao abastecermos o carro com vinte litros de combustível, ao executarmos uma receita culinária que requer duas xícaras de farinha, ao comprarmos dez metros de tecido, ao sugerirmos que a criança não veja mais que duas horas de televisão por dia, ao relatarmos que o criminoso foi condenado a dezoito anos de prisão ou mesmo, no bar, ao pedirmos uma dose de uísque estamos fazendo uso da metonímia.

A medida --seja espacial (o continente), seja temporal-- substitui o termo, por assim dizer, exato ou próprio. Na verdade, nós abastecemos o carro com combustível, a receita culinária requer farinha, compramos tecido, a criança vê ou não televisão, o criminoso é condenado à prisão, o que pedimos no bar é uísque e assim por diante.

Hoje se tornou muito comum, sobretudo na linguagem da imprensa, medir distâncias pelo tempo de chegada por um ou outro meio de transporte. Numa frase como "Daqui até lá, são duas horas de viagem", também encontramos a metonímia. A medida temporal (duas horas) passa a ser o núcleo do sintagma.

Em linguagem referencial, diríamos que se trata de uma "viagem de duas horas de duração" ("viagem" é o núcleo); com a metonímia, dizemos que se trata de duas horas de viagem ("duas horas" é o núcleo).

São muitos os exemplos do cotidiano. Vale a pena observar a riqueza da linguagem de todos os dias, verdadeiro receptáculo da criatividade.

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